30% dos trabalhadores brasileiros sofrem da condição, com aumento de 38% nos benefícios por incapacidade relacionados a transtornos mentais em 2023, em comparação a 2022
O burnout, uma síndrome causada por estresse crônico relacionado ao trabalho, é mais do que um desafio pessoal. Ele gera prejuízos significativos à economia global, estimados em US$ 1 trilhão anuais, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa perda é atribuída à queda de produtividade causada por doenças como depressão e ansiedade, que resultam em cerca de 12 bilhões de dias de trabalho perdidos a cada ano.
“Um ambiente de trabalho tóxico, uma cultura corporativa desalinhada aos valores do colaborador ou a discrepância entre a descrição do cargo e as demandas reais podem levar à sensação de falta de reconhecimento, subutilização de talentos e, consequentemente, à deterioração da saúde mental”, explica Cris Kerr, CEO e fundadora da CKZ Diversidade.
A especialista ainda aponta uma dimensão cultural que agrava o problema: “O culto ao êxito, a ideia de que não há recompensa sem sacrifício e a glamourização do burnout fazem com que muitas pessoas aceitem o excesso de trabalho, mas tenham vergonha de admitir quadros de depressão e ansiedade”, complementa.
Burnout no Brasil: um problema endêmico
No Brasil, a síndrome de burnout já atinge proporções alarmantes. Dados da International Stress Management Association (ISMA-BR) indicam que 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem da condição, enquanto o Ministério da Previdência Social registrou um aumento de 38% nos benefícios por incapacidade relacionados a transtornos mentais em 2023, em comparação a 2022.
Por outro lado, a pandemia de Covid-19 trouxe maior visibilidade ao tema. “Se antes a saúde nas empresas era limitada a iniciativas como ginástica laboral e check-ups periódicos, hoje o bem-estar mental e a felicidade ganharam destaque”, comenta Cris Kerr. Uma pesquisa do ADP Research Institute realizada em 17 países revelou que, no Brasil, 63% dos trabalhadores se sentem mais confortáveis para discutir burnout sem medo de julgamentos.
Investimento em saúde mental traz retorno financeiro
O cuidado com a saúde mental não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também de retorno financeiro. Segundo a OMS, cada dólar investido em saúde mental pode gerar um retorno de até quatro dólares em produtividade. Para Cris Kerr, a criação de “EPIs emocionais” – programas e capacitações voltados ao acolhimento e bem-estar – deve ser uma prioridade organizacional.
“Da mesma maneira que as empresas garantem a segurança física com capacetes e botas, precisam oferecer ferramentas que promovam a saúde emocional”, afirma e complementa: “espaços de trabalho que promovem a valorização dos colaboradores e oferecem suporte durante momentos de crise criam um ambiente mais sustentável e inovador”, conclui.