Decisão ocorre logo após o Estado de Nova Iorque processar a empresa por falta de transparência nos impactos ambientais
A Science-Based Targets (SBTi), uma iniciativa que nasceu de uma colaboração entre o Carbon Disclosure Project (CDP), o Pacto Global das Nações Unidas, o Instituto de Recursos Mundiais e o Fundo Mundial para a Natureza, que atua como um censor das metas e ações climáticas apresentadas por empresas, divulgou que a JBS teve o seu status alterado para “compromisso removido”.
Com sede em Londres e atuação em 47 países, a organização mundial, que possui uma base de mais de 1.000 empresas aderentes à iniciativa para definir uma meta climática baseada na ciência, evidencia, a partir desta decisão, que a prática de greenwashing ainda é utilizada entre as empresas. O termo em inglês, que na tradução livre seria “lavagem verde”, é utilizado no mercado para ilustrar práticas que criam uma falsa aparência de sustentabilidade, sem de fato, a aplicarem na prática.
Nos Estados Unidos, a Procuradora-geral do Estado de Nova Iorque, Letitia James, ingressou com um processo contra a JBS USA Food Company e a JBS USA Food Company Holdings (JBS USA), alegando que a empresa engana o público sobre a real dimensão dos impactos ambientais que causa. Antes do processo do estado de Nova Iorque, o órgão regulador de publicidade dos Estados Unidos também já havia alertado a empresa sobre sua publicidade de descarbonização, solicitando a revisão de seus anúncios.
Assim, a decisão da SBTi vem para reforçar os indícios de prática de greenwashing da JBS. “O que não falta atualmente é discurso e planos ineficientes, mas na prática as empresas não apresentam ações efetivas para combater as ameaças ao clima. No caso da JBS isso é ainda mais evidente, já que uma atividade como a pecuária industrial é, por si só, completamente insustentável”, avalia Marina Lacôrte, gerente de sistemas alimentares na Proteção Animal Mundial. Há alegações ainda de que a empresa vem deturpando a intenção de atingir emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2040, uma vez que não apresenta um plano público claro para atingir esta meta, e planeja continuar expandindo sua atuação e produção.
”Um estudo do Observatório do Clima mostrou que os sistemas agroalimentares no Brasil representam 74% das emissões de gases de efeito estufa no país. E a pecuária industrial é o setor que mais impacta nesse resultado, principalmente por conta do desmatamento que a atividade causa em território brasileiro. Os danos ao clima incluem ainda as emissões do próprio rebanho, que em outros países é uma parcela muito significativa. Ou seja, a pecuária industrial é uma das maiores contribuintes para o aquecimento do nosso planeta, sem dúvida”, afirma Marina.
Dados da Proteção Animal Mundial indicam que a produção de suínos e frangos da JBS causa emissões equivalentes a 14 milhões de carros nas ruas a cada ano, o que é mais do que o dobro do segundo maior emissor da pecuária industrial. Outro comparativo é que a produção de frangos e suínos da JBS gera anualmente mais emissões do que todos os carros de Nova Iorque e quase três vezes a quantidade de emissões de todos os carros do Rio de Janeiro.
Recentemente, a Proteção Animal Mundial divulgou o relatório “Prática atrasada, terra arrasada“, demonstrando a ligação da JBS a fornecedores que se apropriaram ilegalmente de terras e ao desmatamento no Brasil, demonstrando desrespeito pelas comunidades locais, pelo meio ambiente e pelos animais silvestres. A instituição alerta que as atividades do agronegócio no Brasil comprometem seriamente a meta do governo de cumprir acordos climáticos firmados internacionalmente e de zerar o desmatamento até 2030.