Pesquisa da Korn Ferry mostra avanço nas avaliações formais, aumento na frequência de reuniões e crescimento da profissionalização entre conselheiros
A 12ª edição da pesquisa anual realizada pela Korn Ferry, consultoria global de gestão organizacional, aponta um salto qualitativo no papel dos conselhos de administração nas empresas brasileiras. O estudo revela que os conselhos vêm se tornando mais estratégicos, atuantes e decisivos na estrutura de governança corporativa no Brasil — movimento que fortalece a profissionalização dos conselheiros e impacta diretamente a tomada de decisão nas organizações.
Segundo o levantamento, 62% das empresas passaram a adotar avaliações formais de seus conselhos em 2024, contra 54% em 2022. Esse crescimento demonstra um esforço crescente para mensurar a efetividade dos colegiados e ampliar o controle do board sobre a organização.
“Ainda há empresas que fazem essa avaliação apenas por obrigação regulatória, sem compromisso real com a melhoria da governança. Mas o avanço é claro, e a tendência é que essa prática se consolide nos próximos anos”, afirma o sócio sênior da Korn Ferry, Jorge Maluf.
Mais reuniões, mais estratégia
O estudo também mostra um aumento na frequência e intensidade das reuniões dos conselhos no Brasil, que agora realizam, em média, 12 encontros por ano — frequência superior à observada nos EUA e na Europa, onde as reuniões tendem a ser trimestrais ou bimestrais.
“No Brasil, estão muito mais presentes e atuantes do que antes e as decisões, que antes eram conduzidas exclusivamente pelos controladores e CEOs, agora passam efetivamente pelo Conselho”, diz Maluf. Ele explica que essa mudança se deve a dois fatores principais: o afastamento gradual dos controladores das posições executivas, e a diluição da propriedade para financiamento do crescimento, o que deu voz mais ativa a investidores institucionais.
Comitês estratégicos e de inovação em ascensão
O crescimento dos comitês de assessoramento também foi destaque na pesquisa, com especial ênfase nos comitês de estratégia e inovação, cada vez mais presentes nas estruturas de governança.
“O crescimento dos comitês de estratégia é um reflexo do papel mais relevante que os conselhos passaram a desempenhar, influenciando diretamente a direção dos negócios”, pontua Maluf.
Remuneração estabiliza após forte valorização
Após um ciclo de valorização significativa, a remuneração dos conselheiros mostra sinais de estabilização. Nos últimos dois anos, os valores pagos aos conselheiros e presidentes de conselho acompanharam a inflação nos níveis mais altos, enquanto as remunerações médias cresceram 10% e 16%, respectivamente.
“Houve um momento em que a remuneração deste grupo crescia muito mais rápido do que a dos CEOs. Agora, estamos vendo o que parece ser um ponto de equilíbrio, o que denota um mercado mais maduro e sustentável”, afirma o executivo.
Diversidade avança, mas ainda está aquém dos padrões globais
A presença de mulheres nos conselhos segue em crescimento, mas o Brasil ainda está atrás de países como EUA e nações europeias. O estudo aponta que 20% dos membros dos conselhos são mulheres, ante 25% nos EUA e 39% na Europa. Entre conselheiros independentes, esse percentual chegou a 26% no ano passado, mas caiu para 23% este ano, acendendo um alerta sobre a manutenção das políticas de diversidade.
“Ainda estamos longe dos padrões internacionais, até porque em muitos países da Europa há cotas obrigatórias para diversidade nos conselhos, o que acelera esse processo. No Brasil, esse crescimento ocorre de forma mais lenta e voluntária, mas já há sinais de mudança”, comenta Maluf.
Com a exigência da B3 para inclusão de diversidade nos conselhos até 2025, a expectativa é de que as companhias acelerem seus esforços nesse campo.
Conselhos mais preparados para um cenário complexo
A pesquisa da Korn Ferry foi realizada com base em dados fornecidos por mais de 100 empresas e oferece uma visão aprofundada sobre práticas de governança, remuneração e diversidade. Embora os desafios permaneçam — especialmente na agenda ESG e na inclusão — os dados mostram uma evolução clara no papel dos conselhos.
“A governança corporativa no Brasil está passando por uma transformação. Os conselhos deixaram de ser instâncias protocolares e passaram a efetivamente orientar as grandes decisões das empresas. Isso cria um novo mercado, demanda mais dedicação de tempo e exige conselheiros cada vez mais preparados para lidar com a complexidade dos negócios e uma agenda temática mais ampla”, conclui Maluf.
**Metodologia**: A pesquisa da Korn Ferry analisou dados de mais de 100 empresas, com informações primárias fornecidas diretamente pelos participantes. Os dados apresentados são trechos publicáveis de um estudo mais amplo, cujo conteúdo integral é restrito aos respondentes.