Empresa supera desafios e se prepara para expansão no mercado de sistemas construtivos e energia solar
Após seis anos em recuperação judicial, a Eternit, uma das líderes no setor de materiais de construção no Brasil, anunciou oficialmente nesta sexta-feira, 9, o encerramento desse processo. A decisão, que marca o fim de um período de reestruturação, foi sentenciada pelo Juiz de Direito da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo/SP, quase nove meses após a empresa ter protocolado um aditivo ao seu Plano de Recuperação, relacionado aos credores trabalhistas da Classe I.
O pedido de recuperação judicial foi inicialmente ajuizado em março de 2018, e desde então, a empresa passou por uma série de transformações, lideradas inicialmente pelo ex-presidente Luís Augusto Barbosa. Atualmente, a companhia é conduzida por Paulo Roberto de Oliveira Andrade, que assumiu a presidência em julho de 2023, após integrar o Conselho de Administração desde 2020.
De acordo com Andrade, a Eternit já se encontra em uma situação financeira estável e com todas as dívidas equacionadas. “A recuperação judicial já era considerada, na prática, um capítulo finalizado para a Companhia, que teve importantes conquistas durante o período. Nós nos reinventamos ao longo de toda a jornada e estamos otimistas com esta nova etapa. Ganhamos uma perspectiva mais poderosa para nosso desenvolvimento e seguiremos apostando em inovação”, afirmou.
A conclusão do processo de recuperação judicial acontece em um momento de expansão e fortalecimento da Eternit. Nos últimos anos, a companhia adquiriu uma concorrente, aumentou sua capacidade de produção e investiu em um novo projeto no Nordeste. “Somos uma empresa brasileira com uma longa história de 84 anos e com 9 fábricas em várias regiões do país. Recentemente, compramos uma concorrente, lançamos duas linhas de telhas solares, aumentamos a capacidade de nossas fábricas e investimos em um projeto greenfield muito estratégico no Nordeste. Agora, o foco é rentabilizar os ativos usando toda a capacidade adicional que construímos e investir no mercado de sistemas construtivos e fotovoltaico”, destacou Andrade.
Novo acordo e quitação de dívidas
O último obstáculo para a saída definitiva da recuperação judicial envolvia a forma de pagamento dos credores da Classe I, principalmente no que tange aos processos trabalhistas acima de R$ 250 mil. Enquanto aguardava uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Eternit propôs uma alternativa mais favorável aos credores, mantendo a estrutura de ativos e caixa destinada ao pagamento dos credores conforme o plano aprovado em 2019.
Com a homologação do novo acordo, a companhia antecipará a quitação dos créditos de até R$ 250 mil por credor em 90 dias, um prazo significativamente menor do que o inicialmente previsto de um ano. As dívidas acima desse valor serão quitadas seguindo a modalidade de pagamento aplicada à Classe III, cujos valores já foram liquidados com a venda de ativos.
Retrospectiva da Recuperação Judicial
Desde 2018, a Eternit superou vários desafios que tornaram sua recuperação judicial uma exceção, considerando que apenas 23% das empresas conseguem concluir esse processo com sucesso, segundo dados da Serasa Experian.
- 2017/2018: A empresa entrou em recuperação judicial devido à necessidade de substituir a fibra mineral crisotila pela fibra sintética de polipropileno na produção de telhas, o que elevou significativamente os custos operacionais. Nesse período, a Eternit também reestruturou seus negócios, abandonando segmentos menos competitivos.
- 2020: Beneficiada pela demanda aquecida do setor de construção civil durante a pandemia, a Eternit registrou seu primeiro lucro líquido positivo desde 2015, totalizando R$ 158,7 milhões.
- 2021: A empresa obteve seu melhor resultado financeiro da década, com um EBITDA ajustado de R$ 337 milhões e lucro líquido de R$ 269 milhões, apesar dos desafios econômicos globais.
- 2022: A Eternit adquiriu a concorrente Confibra por R$ 110 milhões, reforçando sua presença em São Paulo, e voltou a distribuir dividendos aos acionistas.
- 2023: A companhia continuou sua expansão, ampliando suas unidades no Rio de Janeiro, Goiânia e Manaus, além de alcançar uma capacidade instalada de 90 mil toneladas/mês de fibrocimento.
- 2024: Em abril, a Eternit inaugurou sua nova fábrica em Caucaia, Ceará, o maior projeto dos últimos 50 anos, com capacidade de 6,5 mil toneladas/mês.
Inovação e Sustentabilidade
Além das conquistas financeiras, a Eternit também se destacou no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, como as telhas fotovoltaicas Tégula Solar e Eternit Solar. A empresa investiu em pesquisa e desenvolvimento por quase três anos para criar esses produtos, que utilizam um processo único de fabricação, permitindo a integração de módulos de captação de energia solar diretamente nas telhas.
“A comercialização do produto Tégula Solar foi iniciada no segundo semestre de 2021 e da Eternit Solar no primeiro semestre de 2023. Este último, mais econômico, foi desenvolvido com o propósito de popularizar o emprego da energia solar no mercado brasileiro”, explicou Andrade.
Com o término do processo de recuperação judicial, a Eternit está preparada para explorar novas oportunidades de crescimento. A empresa continuará a focar em sustentabilidade e inovação, especialmente no mercado de sistemas construtivos e energia solar, áreas em que já vem realizando investimentos significativos.