Estudo da PUCPR revela que 95% dos jovens brasileiros aspiram ter um imóvel na terceira idade, apesar da alta dos juros e do avanço do aluguel
Ao contrário do que muitas vezes se afirma no mercado, de que os jovens estariam abandonando o desejo pela propriedade em favor da locação, a realidade mostra outro cenário: 95% dos brasileiros das gerações Y e Z ainda sonham em ter a casa própria na terceira idade. A constatação é de um estudo do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que analisou as preferências habitacionais entre diferentes gerações no país.
O levantamento foi realizado a partir de entrevistas com indivíduos da classe média urbana de diferentes faixas etárias, somadas a análises estatísticas. O objetivo foi identificar os padrões de aspirações de moradia entre gerações. Os resultados desafiam a ideia de uma “geração aluguel”.
“Os padrões observados desafiam narrativas simplistas de uma suposta ‘geração aluguel’. Há uma série de fatores – individuais, sociais, temporais e espaciais -, que, somados às condições econômicas, mudanças políticas e circunstâncias pessoais, ajudam a explicar o desejo pela casa própria”, afirma o urbanista Rafael Kalinoski, doutor e pesquisador da PUCPR, um dos responsáveis pelo estudo.
Três perfis de aspirações habitacionais
A pesquisa identificou três perfis distintos:
Tradicional: mais comum entre os nascidos entre 1945 e 1964 (Boomers), para quem a posse do imóvel representa segurança e status social.
Pragmático: predominante entre a Geração X (1965-1984), que valoriza o imóvel como proteção patrimonial e garantia de valorização.
Flexível: presente nos jovens a partir de 1985 (gerações Y e Z), que priorizam mobilidade e experiências de vida, mas ainda mantêm o desejo pela casa própria no futuro.
“Embora o aluguel tenha ganhado espaço nos centros urbanos, 90% dos entrevistados afirmaram desejar a casa própria na terceira idade. Para a maioria, o aluguel é uma solução temporária diante das dificuldades econômicas, e não uma escolha definitiva de estilo de vida”, explica Kalinoski.
Entre os jovens das gerações Y e Z, o percentual sobe para 94,6%. “Não estarem presos a uma propriedade permite que explorem oportunidades educacionais, profissionais e pessoais sem as restrições que a aquisição de uma casa própria e suas dívidas associadas podem impor. Mas os jovens podem abraçar esse ideal não porque realmente o prefiram, mas porque veem a aquisição de uma casa própria como inatingível”, complementa o pesquisador.
Preferências por tipo de moradia
Outro dado relevante é a preferência pelo tipo de imóvel na terceira idade. Enquanto 75% dos jovens da Geração Z e 58,1% da Geração Y sonham em viver em casas, apenas 38% dos Boomers e 38,2% da Geração X compartilham desse desejo. Entre os mais velhos, cresce a adesão aos apartamentos: 46,8% dos Boomers preferem essa opção.
“Atribuímos esse padrão ao chamado ‘efeito de experiência’: quanto mais vivências habitacionais ao longo da vida, maior o reconhecimento das vantagens práticas dos apartamentos, como acessibilidade, segurança e baixa manutenção. E cabe lembrar que esse pensamento reflete as percepções dos entrevistados nas áreas urbanizadas das regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil”, detalha Kalinoski.
Metodologia e publicação internacional
O estudo foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pelo CNPq, com a participação de Rafael Kalinoski e do professor Mario Prokopiuk, ambos da PUCPR. Os resultados foram publicados em julho de 2025 no International Journal of Urban and Regional Research (IJURR), sob o título “A ilusão da flexibilidade: aspirações de moradia entre gerações no mercado formal do Brasil”*.
