Com o aumento diário de normas, companhias buscam tecnologia para reduzir riscos, ganhar eficiência e proteger sua reputação
O cenário regulatório brasileiro tem se tornado um desafio estratégico para empresas de todos os portes. Desde a promulgação da Constituição de 1988 até o fim de 2024, mais de 7,8 milhões de normas foram editadas no país, o equivalente a cerca de 860 novas regras por dia útil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Esse “caos regulatório” eleva custos, trava a inovação e aumenta a insegurança jurídica, tornando a conformidade legal uma prioridade urgente para organizações em diversos setores.
Nesse contexto, as RegTechs – soluções tecnológicas voltadas à regulação e compliance — surgem como aliadas estratégicas. Ao integrar inovação tecnológica à gestão legal, essas plataformas permitem que empresas automatizem processos, monitorem mudanças regulatórias em tempo real e garantam rastreabilidade completa das operações.
“No Brasil, onde temos mudanças regulatórias quase diárias, não é mais possível depender apenas de controles manuais ou da memória institucional. Compliance precisa estar digitalizado, integrado e auditável. É isso que garante agilidade e, ao mesmo tempo, proteção jurídica”, afirma Gleison Loureiro, CEO do AmbLegis, software especializado na gestão de requisitos legais e compliance ambiental.
As RegTechs permitem que tarefas antes demoradas e suscetíveis a erros humanos sejam realizadas de forma mais ágil e precisa. Sistemas automatizados emitem alertas periódicos sobre alterações legais, garantindo previsibilidade e segurança para a operação das empresas. Além disso, ao centralizar todos os registros de compliance, essas tecnologias tornam o processo auditável, substituindo pilhas de documentos por históricos completos e confiáveis.
Com a redução da burocracia, equipes jurídicas e de compliance podem se dedicar a atividades estratégicas, como antecipar riscos e apoiar a expansão do negócio. A proteção jurídica e reputacional também é fortalecida, uma vez que o uso de RegTechs evita multas e embargos, e assegura que investidores e consumidores tenham confiança na transparência das operações.
O AmbLegis é um exemplo de plataforma que já comprova esses resultados. A ferramenta centraliza obrigações legais, automatiza alertas e gera relatórios auditáveis em tempo real. Segundo Loureiro, clientes da empresa já registraram até 80% de redução nas não conformidades ambientais. “A tecnologia transforma o compliance em vantagem competitiva. Em vez de gastar tempo com burocracia, as empresas conseguem dedicar energia à inovação e ao crescimento com segurança”, destaca.
A relevância das RegTechs deve crescer ainda mais com a proximidade da COP30, que ocorrerá em novembro em Belém (PA). As discussões internacionais sobre ESG devem ampliar as exigências de transparência e rastreabilidade das práticas corporativas. “Sem governança e compliance, qualquer iniciativa ambiental ou social corre o risco de ser interpretada como greenwashing. As RegTechs são a ponte entre o discurso e a comprovação”, ressalta Loureiro.
O mercado global de RegTech também mostra expansão significativa. Segundo levantamento da Grand View Research, o setor deve atingir US\$ 70,64 bilhões até 2030, com crescimento médio anual de 23,1% entre 2024 e 2030, refletindo a demanda por automatização e integração tecnológica na gestão de riscos legais, especialmente em setores como financeiro, agronegócio e indústria.
As RegTechs, portanto, se consolidam como ferramentas essenciais para empresas que buscam não apenas conformidade legal, mas também eficiência operacional, inovação e proteção da reputação em um ambiente regulatório complexo e em constante evolução.
