Estudos internacionais e relatos de empresas desmentem mitos sobre improdutividade e apontam para uma transformação necessária na liderança brasileira
Apesar da resistência cultural e dos discursos que associam o home office à baixa produtividade, as evidências apontam para uma realidade oposta: o trabalho remoto é eficiente, produtivo e desejado por profissionais ao redor do mundo. Dados recentes mostram que 90% dos trabalhadores remotos se consideram tão ou mais produtivos do que quando atuavam presencialmente. O dado é da Hrstacks, que também indica que 83% das empresas que adotaram o modelo remoto relataram sucesso com a mudança.
No Brasil, no entanto, parte do empresariado ainda enxerga o home office com desconfiança. A visão de que produtividade só existe sob supervisão direta reforça um modelo de liderança pautado em vigilância, presença física e longas jornadas, ignorando os benefícios comprovados do modelo remoto.
A pesquisa da Bare International reforça esse contraste. Segundo o estudo, 38% dos entrevistados trabalham atualmente em home office, e 70% afirmam não querer retornar ao modelo 100% presencial. Ainda assim, muitas empresas insistem em trazer seus funcionários de volta aos escritórios, mesmo com indícios claros de queda na satisfação e no engajamento.
Segundo Sylvestre Mergulhão, CEO da Impulso, people tech brasileira especializada em soluções para times de tecnologia, o problema não está na modalidade de trabalho, mas no modelo de liderança. “No Brasil, embora muitos profissionais tenham se adaptado bem ao modelo, o retorno forçado ao presencial por parte de algumas empresas revelou um gap de mentalidade. Se a gestão depende do olho do chefe para funcionar, o problema não é o home office, é a liderança”, declara.
Resultados que desmontam preconceitos
Vários estudos internacionais dão suporte à adoção do trabalho remoto como modelo eficaz e sustentável. Segundo levantamento da Stanford University, colaboradores que trabalham remotamente são, em média, 13% mais produtivos do que os que atuam exclusivamente no escritório.
A McKinsey aponta que empresas que oferecem flexibilidade no trabalho registram maiores níveis de engajamento e satisfação entre os colaboradores. E um estudo realizado por professores da Harvard Business School mostra que 40% dos profissionais estariam dispostos a aceitar uma redução de 5% no salário para manter o direito ao home office.
Produtividade e confiança caminham juntas
O relatório State of Remote Work 2023, da plataforma Buffer, aponta que 98% dos trabalhadores remotos desejam continuar nesse modelo até o fim da carreira. Isso indica que o desejo pelo home office não é uma tendência passageira, mas uma mudança de paradigma que reflete as novas exigências do mercado de trabalho. “Modelos híbridos bem planejados, com metas claras, ferramentas digitais adequadas e foco em entregas, tendem a funcionar melhor do que esquemas presenciais engessados”, sugere Mergulhão.
Enquanto empresas globais como Google, Salesforce e Spotify já incorporaram a flexibilidade como padrão, muitos líderes brasileiros seguem presos a métodos ultrapassados, comprometendo sua capacidade de atrair talentos, promover inovação e manter a competitividade.
Além do aumento de produtividade, os benefícios do home office incluem economia de recursos, acesso a profissionais qualificados em diferentes regiões, redução dos índices de burnout e gestão orientada a dados e resultados, em vez de horas presenciais.
“A discussão no Brasil vai muito além de onde se trabalha; trata-se de repensar o modelo de trabalho como um todo. Insistir em criminalizar o remoto é ignorar a transformação digital em curso e as novas demandas de um mercado cada vez mais ágil, competitivo e conectado”, conclui Sylvestre Mergulhão.
Diante das evidências, a pergunta mais urgente já não é ‘quem tem medo do home office?’, mas sim: quem ainda pode se dar ao luxo de ignorar tudo o que ele oferece?