Estudo revela perfil e desafios das mulheres empreendedoras no Brasil, destacando a economia do cuidado e desigualdades raciais e de gênero
A pesquisa “Empreendedoras e Seus Negócios 2024,” realizada pelo Instituto RME com apoio da Rede Mulher Empreendedora, oferece um panorama sobre as mulheres empreendedoras no Brasil. Em sua 9ª edição, o estudo revelou que 73% das empreendedoras brasileiras são mães, e 37% dessas mulheres criam seus filhos sozinhas, evidenciando a presença expressiva da maternidade solo no empreendedorismo feminino.
“Desde 2016 nós fazemos essa pesquisa anualmente. Um ponto de destaque: 73% das empreendedoras são mães e mais de 68% afirmam que os filhos vieram antes dela ser empreendedora, o que mostra, claramente, muita resistência no nosso mercado de trabalho em aceitar uma mãe enquanto profissional. Nestes casos, o caminho que resta é o do empreendedorismo,” comenta Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME.
O estudo revelou, ainda, que a maioria das empreendedoras (60%) está na faixa etária de 30 a 49 anos, e 52% possuem ensino superior. Entre as mulheres brancas, 61% concluíram o ensino superior, enquanto apenas 44% das empreendedoras pretas e pardas alcançaram esse nível de formação. A pesquisa também destaca a distribuição regional das empreendedoras, com 45% delas concentradas no Sudeste e 25% no Nordeste, enquanto as regiões Centro-Oeste (5%), Norte (8%) e Sul (16%) apresentam menor representatividade.
Desafios financeiros e desigualdades raciais
A pesquisa apontou dificuldades financeiras significativas entre as mulheres empreendedoras. Enquanto 49% das empreendedoras pretas e pardas possuem faturamento mensal de até R$ 2.000, essa proporção cai para 36% entre as mulheres brancas. Além disso, 52% das empreendedoras pretas e pardas relatam estar endividadas, número superior ao das mulheres brancas (45%).
A busca por independência financeira foi apontada como a principal motivação para empreender, principalmente entre mulheres pretas e pardas (48%), que também veem no empreendedorismo uma forma de aumentar a renda (39%). Já para as mulheres brancas, a flexibilidade de horários foi um dos fatores mais importantes ao iniciar um negócio (41%).
Carga mental e desafios da economia do cuidado
O estudo destacou o papel da “economia do cuidado” na vida dessas empreendedoras, enfatizando que 50% das mulheres empreendedoras no Brasil não contam com qualquer tipo de ajuda em suas responsabilidades domésticas ou empresariais, o que gera sobrecarga. “50% das empreendedoras não recebem nenhum tipo de ajuda na sua casa ou em seu negócio, isso mostra o quanto a empreendedora tem que dar conta de tudo e não é à toa que muitas sentem uma sobrecarga mental grande,” acrescenta Ana Fontes.
Metodologia
Realizada pela Ideafix Pesquisas Corporativas, a Pesquisa IRME 2024 utilizou uma abordagem quantitativa com 2.141 participantes, das quais 94% são brasileiras e 5% estrangeiras, a maioria venezuelanas. A coleta de dados ocorreu entre agosto e setembro de 2024, com métodos híbridos de auto-preenchimento online, entrevistas presenciais e telefônicas.