Estudo internacional propõe novo modelo de liderança para conselhos, baseado em confiança, diálogo estratégico e desenvolvimento contínuo dos executivos
Em um contexto de volatilidade global e redefinição do papel da governança corporativa, a consultoria Korn Ferry lança o manual Presidente do Conselho do Futuro: da Supervisão à Previsão 2025, que propõe uma transformação profunda na forma como os presidentes de conselho se relacionam com os CEOs e conduzem o alto comando das organizações.
A publicação consolida décadas de pesquisa e prática da consultoria em desenvolvimento de lideranças e sucessão executiva, oferecendo uma metodologia de atuação que reposiciona o presidente do conselho como coach estratégico do CEO, um papel que equilibra confiança e responsabilidade, escuta ativa e desafio construtivo.
“Os melhores presidentes de conselho desafiam o pensamento do CEO sem ameaçar sua autoridade. Eles resistem com propósito. Isso tem feito com que ferramentas como escuta ativa, questionamento não diretivo e feedback de desenvolvimento sejam adotadas. E, claro, os resultados são decisões mais concretas, liderança mais alinhada e organizações que se fortalecem diante de qualquer desafio”, explica Jorge Maluf, sócio sênior e líder de serviços para conselhos da Korn Ferry.
Da supervisão à parceria estratégica
O manual estrutura cinco princípios para o presidente do conselho que deseja assumir uma postura mais ativa e transformadora:
1. Construir confiança – criar uma cultura de honestidade e diálogo aberto, onde o CEO se sinta seguro para expor desafios e dilemas reais.
2. Ser parceiro de pensamento, e não microgerente – ajudar o executivo a enxergar o panorama estratégico e o longo prazo.
3. Desafiar com cuidado – promover tensões produtivas, que geram reflexão e crescimento.
4. Fazer a ponte entre conselho e CEO – traduzir decisões e prevenindo ruídos que possam enfraquecer a liderança.
5. Estimular o desenvolvimento contínuo – expor o CEO a novas ideias e construindo times que complementem suas competências.
Essa mudança de mentalidade, segundo Maluf, é o que diferencia conselhos reativos de conselhos protagonistas. “A liderança estratégica, hoje, pede cada vez mais agilidade e presença ativa. Mais do que seguir calendários fixos de reuniões, ganha força a construção de espaços para diálogos contínuos e decisões que acompanhem o ritmo das mudanças”, afirma.
As 10 habilidades do presidente do futuro
A pesquisa da Korn Ferry identificou dez atributos críticos para o desempenho de líderes de conselho em um cenário de complexidade crescente. Eles refletem a migração da autoridade hierárquica para a autoridade relacional, onde a influência é construída a partir da escuta, da adaptabilidade e da visão de longo prazo.
Entre os principais pontos, o estudo destaca:
Empatia, como motor de decisões eficazes e humanas; Escuta ativa, que revela tensões ocultas e promove inclusão; Julgamento, entendido não apenas como acerto, mas como capacidade de antecipar e testar cenários; Comunicação clara e inspiradora, capaz de traduzir complexidade em ação; Adaptabilidade, fundamental em contextos de crise; Curiosidade, para questionar o status quo e identificar oportunidades emergentes; Gerenciamento de tensão, que transforma conflitos em aprendizado; Humildade e autenticidade, como fontes de credibilidade; Visão estratégica, para conectar decisões de hoje às ambições de amanhã.
“Vamos reforçar que esses líderes promovem agilidade, resiliência e pensamento estratégico e ousado, preparando as organizações para moldar e liderar a mudança, em vez de apenas segui-la e sobreviver”, complementa Maluf.
Sucessão: o novo imperativo da governança
A sucessão do CEO, tema frequentemente tratado como sensível, ganha centralidade na agenda proposta pela Korn Ferry. O estudo sugere que o planejamento sucessório seja tratado como processo permanente e estruturado, e não como uma discussão eventual.
Entre as recomendações, estão:
a) Manter o tema como item fixo na pauta do conselho;
b) Definir uma estratégia documentada de sucessão, com critérios claros de competência e prontidão;
c) Desenvolver sucessores internos e externos de forma contínua;
d) Planejar contingências para transições emergenciais;
e) Reformular a sucessão como prática de desenvolvimento, reduzindo resistências culturais e pessoais.
“Investidores e reguladores têm demonstrado uma expectativa crescente por evolução na governança, e conselhos mais preparados respondem a esse movimento com práticas como rotação planejada, definição de mandatos e avaliações regulares de desempenho”, observa Maluf. “A renovação contínua e o feedback estruturado são ferramentas importantes para que os conselhos permaneçam relevantes e preparados para os desafios do futuro.”
Conselhos como centros de aprendizagem estratégica
Outro ponto central do manual é a necessidade de reformar o modelo de funcionamento dos conselhos, que devem evoluir de espaços de reporte para fóruns de pensamento e decisão estratégica.
A Korn Ferry propõe que os presidentes:
a) Reestruturem agendas e estatutos, colocando a estratégia no centro;
b) Transformem reuniões em momentos de decisão concreta, e não rituais protocolares;
c) Quebrem o ciclo do calendário, adotando abordagens ágeis e contínuas;
d) Invistam no desenvolvimento dos conselheiros como vantagem competitiva;
e) Estimulem o CEO a pensar maior e agir com ousadia.
“Para além dos processos, a cultura também tem papel central — com abertura para múltiplas perspectivas e discussões construtivas, que enriquecem a tomada de decisão”, reforça Maluf.
Avaliação e accountability como cultura
Por fim, o manual trata da avaliação de desempenho dos conselhos como pilar de modernização da governança. A prática deve combinar avaliações internas e externas, feedback contínuo e conversas francas sobre desempenho individual e coletivo.
“Mais do que nunca, precisamos de conselhos com visão de futuro, que combinem coragem, abrangência e foco nas competências essenciais para os desafios que virão”, conclui Jorge Maluf.
Um novo modelo de liderança no topo
O documento da Korn Ferry reforça o que muitos executivos já percebem na prática: o papel do conselho está deixando de ser deliberativo para se tornar transformacional.
No centro dessa mudança, o presidente do conselho assume um novo arquétipo de liderança — menos controlador, mais inspirador; menos fiscalizador, mais formador. E, nesse cenário, o maior desafio não é apenas orientar o CEO, mas ressignificar a governança como instrumento de evolução organizacional.

