Empresários do setor apontam falta de previsibilidade como principal entrave para crescimento e renovação de frotas no segundo semestre de 2025
O transporte rodoviário de cargas (TRC), responsável por movimentar boa parte da economia nacional, enfrenta um momento de cautela e baixa confiança em relação ao segundo semestre de 2025. A percepção negativa é confirmada por dados recentes da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que apontam que o Índice de Confiança do Transportador (ICT) no estado de São Paulo ficou em 45,9% no segundo trimestre deste ano – evidenciando o receio dos empresários do setor frente à instabilidade econômica atual.
Esse cenário é alimentado principalmente pela alta dos juros, que compromete o fluxo de caixa das transportadoras e dificulta o acesso a crédito, fatores que travam o planejamento estratégico e os investimentos no setor. Os custos elevados reduzem a margem operacional, ao mesmo tempo em que a demanda sofre retração, refletindo diretamente em setores interligados como o comércio e a indústria.
Para Roberta Caldas, presidente da Transpocred, cooperativa financeira voltada ao setor de transporte, a imprevisibilidade torna a resiliência um ativo essencial. “Se esse cenário de instabilidade persistir, corremos o risco de ver uma desaceleração ainda maior no setor, com reflexos diretos na renovação de frotas, no volume de operações e, principalmente, na geração de empregos. Além disso, a imprevisibilidade dificulta o planejamento a longo prazo, que é essencial para o crescimento estruturado das transportadoras”, afirma.
Essa avaliação é compartilhada por Ana Jarrouge, presidente executiva do SETCESP (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo) e diretora da CNT na Seção II do Transporte Rodoviário de Cargas. Para ela, o ambiente de incertezas interfere diretamente na atuação do setor e fragiliza a tomada de decisões.
“O momento é, sem dúvidas, de muita preocupação, pois estamos diante de um cenário de incertezas constantes e que parecem não ter um fim a curto prazo, razão pela qual a confiança dos empresários do setor está fortemente abalada. O transporte de cargas é uma atividade essencial, e qualquer instabilidade econômica afeta diretamente nossa atividade, pois reduz a demanda pelo serviço, achata o frete e aumenta os custos operacionais, além de deixar a tomada de empréstimos mais cara, afetando diretamente o fluxo de caixa e a capacidade de investimento em renovação de frota, novas tecnologias, inovação, entre outros”, analisa Jarrouge.
A instabilidade também impacta na dinâmica interna das transportadoras. Para José Alberto Panzan, diretor operacional da Anacirema Transportes e presidente do Sindicamp (Sindicato das Empresas de Transporte e Cargas de Campinas e Região), o diferencial competitivo passa a ser a capacidade de manter a excelência operacional e a proximidade com os clientes.
“Em momentos de instabilidade econômica, o grande diferencial está em manter o foco na eficiência operacional e na qualidade dos serviços prestados. Para nós, na Anacirema, isso significa investir em processos que garantam previsibilidade, segurança e confiança aos clientes, além de manter um relacionamento transparente e próximo. Também é essencial cuidar do capital humano, que para nós é um valor inegociável, mantendo um time motivado, conversando com transparência e preparado para os desafios do mercado. Relevância se conquista quando, mesmo diante de adversidades, a empresa entrega valor de forma consistente”, afirma Panzan.
Diante do cenário desafiador, os líderes do setor apontam a necessidade de união entre transportadores, entidades representativas e instituições financeiras. A proposta é buscar alternativas conjuntas que garantam maior previsibilidade e estímulo à atividade. Adaptabilidade também é vista como chave para atravessar períodos de instabilidade, com foco em manter a atratividade em um mercado altamente competitivo.