Nova entidade sem fins lucrativos tem meta de reciclar 32% das embalagens até 2025 e chegar a 50% em 2040
A indústria brasileira de alimentos deu um passo significativo em direção à sustentabilidade com a criação do Instituto ABIA de Meio Ambiente, lançado em São Paulo. A entidade sem fins lucrativos nasce com a missão de desenvolver projetos de impacto ambiental e social, com foco na logística reversa de embalagens pós-consumo e no cumprimento rigoroso da legislação brasileira.
O evento de lançamento reuniu representantes da indústria, autoridades públicas das esferas federal e estadual, além de parceiros estratégicos como a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT) e a Associação Brasileira de Embalagem de Aço (Abeaço).
“O Instituto ABIA nasce do reconhecimento de que os desafios ambientais demandam ações coordenadas, estruturantes e eficientes. Mais do que um projeto institucional, é uma evolução concreta da nossa responsabilidade como setor. A entidade será uma ferramenta de diálogo entre as empresas da área, autoridades, órgãos governamentais e a sociedade civil”, afirmou João Dornellas, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) e do Instituto ABIA de Meio Ambiente.
Metas ambientais e governança colaborativa
O novo instituto começa suas atividades com a meta de reciclar 32% das embalagens colocadas no mercado pelas indústrias associadas, com objetivo de atingir 50% em 2040. A adesão é voluntária e, até o momento, 33 empresas já confirmaram participação, entre elas algumas das maiores do setor.
“Nosso grande objetivo é que as empresas participem da entidade por meio da conscientização sobre a importância da logística reversa de embalagens”, destacou Helen Miari, gerente executiva do Instituto.
Para Gustavo Chiarini Bastos, presidente do Conselho Diretor da ABIA e vice-presidente Jurídico e de Assuntos Públicos da Nestlé Brasil, a criação da entidade reforça a relevância da gestão de resíduos no setor. “Por isso, o Instituto vem com esse papel tão importante de ser uma entidade gestora de logística reversa de embalagens. A ABIA é uma entidade pioneira nessa questão, muito antes, inclusive, do acordo setorial. Desde 2012, já atua no tema da logística reversa de embalagens”, ressaltou.
Já Márcio Barela, presidente do Conselho Diretor do Instituto e gerente de Sustentabilidade da Cargill, enfatizou a abertura para participação ampla. “Queremos fazer isso juntos. Desejamos que todas as empresas tenham voz ativa nas decisões. Acredito que, assim, seremos mais fortes do que com ações individuais de cada empresa. Trabalhamos para dar o máximo de transparência para as companhias participantes”, afirmou.
Ele também destacou que, além das obrigações legais, um dos maiores desafios será garantir o respeito aos direitos humanos e às condições de trabalho dignas nas organizações de catadores de materiais recicláveis.
Parcerias estratégicas com impacto social
No lançamento, foi formalizada a parceria com a ANCAT, que representa milhares de catadores no Brasil. “Para nós, é fundamental estabelecer essa parceria no setor de embalagens, porque demonstra o fortalecimento e o reconhecimento dos catadores de materiais recicláveis, que, muitas vezes, trabalham no anonimato”, disse Roberto Rocha, presidente da entidade.
A Abeaço também firmou convênio com o Instituto ABIA. Sua presidente executiva, Thais Fagury, destacou os avanços já conquistados na logística reversa de embalagens de aço. “No primeiro ano, conseguimos revalorizar pouco mais de mil toneladas. Ano passado, o objetivo era valorizar 65 mil toneladas de latas de aço e entregamos um resultado de quase 82 mil toneladas”, afirmou. Segundo ela, a expectativa é de que a parceria com o Instituto amplifique esses resultados em conjunto com os catadores.
Apoio governamental e fortalecimento da economia circular
A relevância da iniciativa foi reconhecida também por representantes do setor público. “A ABIA é a maior representante da indústria de alimentos brasileira, reunindo pequenas, médias e grandes empresas. O setor gera mais de 2 milhões de empregos e representa 10% do nosso PIB”, destacou Adalberto Maluf, secretário Nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Rodrigo Bonecini, coordenador-Geral de Bioeconomia e Economia Circular no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, reforçou que a economia circular será peça-chave na Nova Indústria Brasil: “A economia circular, com seus princípios, tem uma atuação transversal, que pode colaborar muito para mitigar esses impactos que podem comprometer os sistemas socioeconômicos”.
Na esfera estadual, Maria Fernanda Pelizzon Garcia, gerente do Departamento de Sustentabilidade da CETESB, abordou a relação entre logística reversa e licenciamento ambiental. Segundo ela, a autarquia vem evoluindo na transparência dos processos e estuda novas formas de contribuir para a economia circular.
Relevância da ABIA no setor de alimentos
Fundada em 1963, a ABIA é a principal representante da indústria de alimentos e bebidas no Brasil. A associação reúne 41 mil empresas de diferentes portes, responsáveis por processar 62% de toda a produção agrícola do país, com uma geração de 2,075 milhões de empregos diretos. O setor representa 10,8% do PIB nacional e produz cerca de 283 milhões de toneladas de alimentos por ano.
Com a criação do Instituto ABIA de Meio Ambiente, a entidade reforça sua atuação pioneira em logística reversa, ampliando a integração entre empresas, governo e sociedade civil para alcançar metas ambientais e sociais de longo prazo.