Setor foi impulsionado pelo Comércio, que avançou 8,1% no ano; expectativa para 2025 é de crescimento mais moderado, com alta de 2,4%
O faturamento das pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras registrou um crescimento de 4,5% em 2024 na comparação com o ano anterior, segundo o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs). O desempenho do setor superou o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que cresceu 3,5% no mesmo período, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No quarto trimestre, o avanço das PMEs foi de 3,3% em relação ao mesmo período de 2023.
O IODE-PMEs monitora 736 atividades econômicas em quatro grandes setores: Comércio, Indústria, Infraestrutura e Serviços. Empresas com faturamento de até R$ 50 milhões anuais são analisadas para indicar o comportamento da economia no segmento.
Felipe Beraldi, economista e gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, atribui o crescimento à ampliação da demanda doméstica, mas destaca uma perda de fôlego, especialmente nos setores de Indústria e Serviços. “Nos últimos anos, houve forte avanço da renda real disponível às famílias, em um contexto de expansão fiscal com programas de transferência de renda e pagamento de precatórios. Também devem ser levados em conta a sustentação do mercado de trabalho aquecido, o desemprego próximo ao reduzido patamar histórico de 6% da última década e rendimentos reais em ascensão e já mais elevados frente ao período pré-pandemia”, explica.
Crescimento por região
As regiões Sul (+8,4%), Nordeste (+8,3%) e Sudeste (+3,7%) foram as principais responsáveis pelo avanço das PMEs em 2024. No Centro-Oeste, houve estabilidade (+0,1%), enquanto as empresas da região Norte tiveram retração de 10,4%.
Destaque para o setor de Comércio
O grande destaque do ano foi o setor de Comércio, que cresceu 8,1%. O avanço do consumo no país impulsionou tanto o atacado (+9,0% YoY) quanto o varejo (+6,4% YoY), com êxito especial em segmentos como alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza.
No varejo, a retomada foi mais consistente no segundo semestre, refletindo-se em categorias como equipamentos para escritório, produtos alimentícios, produtos farmacêuticos manipulados e materiais hidráulicos e elétricos.
Serviços e Indústria
O setor de Serviços também cresceu (+2,5%), embora em ritmo menor no quarto trimestre (+1,2%). Segundo Beraldi, “a alta também impactou o mercado de trabalho, com a maior parte do aumento no saldo de trabalhadores formais concentrado em atividades do setor”. Os destaques foram atividades financeiras e de seguros, transporte e armazenagem, saúde humana e serviços sociais, além de informação e comunicação.
Na Indústria, houve desaceleração no segundo semestre, culminando em uma retração de 1,5% no quarto trimestre. No entanto, o setor ainda encerrou o ano com saldo positivo de 2,2% frente a 2023. Entre os subsetores que cresceram, destacam-se impressão e reprodução de gravações, equipamentos de transporte, manutenção e reparação de máquinas e materiais elétricos.
Infraestrutura avança no segundo semestre
O setor de Infraestrutura fechou 2024 com crescimento de 0,8%. Após um primeiro semestre de quedas, a reação veio a partir de agosto, impulsionada por serviços de coleta e tratamento de resíduos, eletricidade e serviços especializados para construção.
Beraldi destaca que o período eleitoral teve impacto no setor. “Se por um lado dinamiza algumas atividades, por outro, as taxas de juros elevadas tendem a inibir a evolução da construção civil”, comenta. Subsetores como obras de infraestrutura e construção de edifícios tiveram faturamento inferior.
Expectativas de crescimento mais lento em 2025
As projeções indicam crescimento de 2,4% para as PMEs em 2025, um ritmo mais moderado em relação à média de 6,9% ao ano registrada entre 2023 e 2024. Apesar dos desafios macroeconômicos, o mercado ainda encontra apoio na sustentação da renda das famílias e no desemprego historicamente baixo (6,1%). Esse contexto favorece segmentos sensíveis à renda, como Serviços e algumas categorias do Varejo, incluindo produtos alimentícios e farmacêuticos.
No entanto, fatores como a inflação e o aumento da taxa básica de juros pelo Banco Central podem impactar negativamente o consumo e os investimentos, afetando segmentos dependentes de crédito, como Indústria, Comércio e Construção Civil.
“O ambiente de negócios neste ano deve ser altamente suscetível a choques internos e externos”, alerta Beraldi. “Internamente, o equilíbrio fiscal e a implementação da Reforma Tributária são questões centrais. No âmbito externo, acompanhar a evolução política e econômica dos EUA é fundamental, devido aos reflexos sobre a economia de países em desenvolvimento como o Brasil”, conclui o economista.