Estudo da Harvard Business Review destaca que organizações orientadas por valores crescem de forma consistente e retêm talentos com mais eficácia
Empresas que adotam um propósito claro e incorporam valores consistentes em sua cultura organizacional apresentam desempenho significativamente superior em comparação às que focam exclusivamente em resultados financeiros. Essa é a principal conclusão do estudo The Top 20 Business Transformations of the Last Decade, publicado pela Harvard Business Review, que analisou casos de companhias como Microsoft, Netflix, Adobe e Amazon para identificar os fatores que impulsionam seus ciclos de crescimento e inovação.
De acordo com os autores Scott D. Anthony, Alasdair Trotter e Evan I. Schwartz, o sucesso dessas empresas está diretamente ligado à decisão estratégica de infundir um propósito maior que orienta decisões e clareia as tarefas diárias. Esse movimento tem impacto direto também no mercado brasileiro, influenciando a produtividade, a retenção de talentos e a fidelização de clientes.
“O propósito é o motor da motivação humana. Quando os colaboradores entendem por que fazem o que fazem e percebem o impacto do próprio trabalho, o engajamento cresce de forma natural”, afirma Alexandre Slivnik, vice-presidente da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), professor convidado da FIA/USP e diretor executivo do IBEX.
Segundo Slivnik, liderar com propósito significa inspirar de dentro para fora, gerando uma cultura organizacional transformada. “Uma equipe que se sente valorizada e alinhada aos valores da empresa gera clientes mais satisfeitos e leais. O encantamento começa com o time interno”, ressalta o especialista.
Um exemplo emblemático desse modelo é a Microsoft, que sob a liderança de Satya Nadella adotou uma “cultura de aprendizado” com forte apelo ao impacto social e inclusão. Essa transformação cultural resultou em uma onda de inovação e crescimento sustentável. “O legado que se constrói com base em um propósito claro é muito mais duradouro do que qualquer ação de marketing isolada”, complementa Slivnik.
No Brasil, organizações que investem em treinamentos para líderes voltados à gestão com propósito têm colhido resultados expressivos. Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) indicam que ambientes corporativos com forte senso de missão e pertencimento registram até 35% menos rotatividade e até 32% mais produtividade.
Para o especialista, a baixa motivação em muitas empresas está ligada à falta de clareza sobre o impacto das funções exercidas pelos colaboradores. “Infelizmente, ainda vemos uma grande parcela dos colaboradores desengajada justamente por não enxergar sentido no que fazem. O papel da liderança é resgatar essa conexão e mostrar que toda função, por mais simples que pareça, pode ter um impacto significativo”, explica, citando o exemplo de uma funcionária da Disney que, ao recolher ingressos, se sentia responsável pela “primeira interação mágica do visitante com o parque”.
Alexandre Slivnik enfatiza que o propósito deve ser genuíno e vivido no cotidiano corporativo. “Não adianta ter missão e visão na parede se o colaborador não sente isso na prática. O propósito precisa ser critério para decisões estratégicas, seleção de talentos e até desenvolvimento de produtos”, conclui.