Restrições chinesas e tensões geopolíticas elevam desafios para pequenas e médias empresas brasileiras que dependem de insumos estratégicos
A disputa global por terras raras — minérios essenciais para tecnologias de ponta, como motores, sensores, ímãs e equipamentos industriais — está reformulando o comércio internacional e trazendo novos desafios para pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras que dependem de insumos importados.
A China, responsável por cerca de 70% da mineração e 90% do refino mundial desses elementos, intensificou restrições de exportação em 2025, reduzindo em 74% o volume enviado ao exterior e em 93% os embarques para os Estados Unidos em maio, segundo dados do Ministério do Comércio chinês. A medida ocorre em um cenário de escalada geopolítica, em que os EUA buscam diversificar fornecedores e reduzir a dependência de Pequim.
O Brasil surge como candidato estratégico nesse contexto, com 21 milhões de toneladas em reservas, representando cerca de 16% a 23% do total global. A maior parte dessas jazidas está em Goiás, já em produção comercial pela Serra Verde desde 2024, e em Poços de Caldas (MG), com potencial estimado para atender até 20% da demanda global.
“Quando um insumo crítico é restringido, isso não fica restrito a quem extrai ou refina. Afeta o custo e a disponibilidade de uma série de produtos – motores, sensores, ímãs, equipamentos industriais — que fazem parte da rotina das PMEs importadoras. E o problema é que a PME sente o impacto primeiro e tem menos fôlego para absorvê-lo”, afirma Rodolfo Midea, CEO da Fácil Negócio Importação.
Segundo Midea, o Brasil ainda não explora plenamente seu potencial no setor, mas as reservas podem se tornar peça de barganha em negociações comerciais, com possíveis impactos em tarifas, exigências alfandegárias ou acordos específicos. “A geopolítica mexe com preço, prazo e previsibilidade. Para uma pequena empresa, que muitas vezes depende de uma única remessa para manter o negócio, isso pode ser fatal”, alerta.
Além dos riscos políticos, entraves domésticos também aumentam a vulnerabilidade das PMEs: exigência de pagamento antecipado de até 90 dias, variação cambial repentina e burocracia bancária em remessas internacionais. “Já vi empresas quebrarem antes da carga sair do porto de origem. Não por incompetência, mas por não terem estrutura para lidar com capital imobilizado, câmbio instável e atraso no envio do dinheiro. Quando adicionamos uma disputa global por insumos estratégicos, a margem para erro desaparece”, explica Midea.
Diante desse cenário, a Fácil Negócio Importação tem registrado aumento na demanda por renegociação de prazos com fornecedores, hedge cambial e homologação de fornecedores alternativos. “Importar não ficou inviável – ficou caro para amador. O empresário precisa tratar a importação como ciência, com plano B, gestão de risco e governança bancária. Porque o mundo não vai parar para ele se adaptar”, conclui o executivo.