A ascensão da inteligência artificial, a consolidação do trabalho híbrido e a valorização do aprendizado contínuo estão entre as principais mudanças no setor de gestão de pessoas
A consultoria global de gestão organizacional Korn Ferry divulgou seu estudo anual sobre Tendências de Talentos, destacando os principais fatores que moldarão as estratégias de recrutamento e retenção em 2025. Sob o tema “Progresso em vez da Perfeição”, a análise contou com insights de mais de 400 profissionais de recrutamento e identificou cinco grandes transformações que impactarão o setor ao longo dos próximos meses.
1. Inteligência artificial: avanço com cautela
A inteligência artificial (IA) se consolida como uma tendência central para 2025, com 67% dos entrevistados reconhecendo seu uso crescente nos processos de seleção. No entanto, a implementação da tecnologia não está isenta de desafios. Segundo a pesquisa, 40% dos especialistas em gestão de talentos temem que a supervalorização da IA possa afastar candidatos qualificados, uma vez que a ferramenta ainda não é capaz de avaliar plenamente elementos subjetivos, como habilidades interpessoais e cultura organizacional.
Nicolas Villarroel, líder de Professional Search para a América do Sul da Korn Ferry, avalia que, embora a IA tenha sido incorporada ao recrutamento com a promessa de acelerar processos e otimizar buscas, ela ainda tem limitações. “A ideia de encontrar o candidato perfeito rapidamente por meio dessa tecnologia era crucial. Mas, a verdade é que a IA, por mais inteligente que seja, ainda não consegue capturar a complexidade de uma pessoa”, pontua.
Ainda assim, a pesquisa revela que 39% dos entrevistados pretendem integrar a IA aos seus fluxos de trabalho de forma mais cuidadosa e alinhada às necessidades reais das organizações.
2. Foco em habilidades críticas
Outro destaque do estudo é a crescente priorização das habilidades essenciais para funções estratégicas. De acordo com a pesquisa, 24% dos entrevistados afirmam que encontrar profissionais com competências certas será um dos maiores desafios de contratação e retenção em 2025.
Entre as habilidades mais demandadas, estão:
– Liderança (69%)
– Conhecimentos técnicos (59%)
– Comunicação (58%)
– Solução de problemas (58%)
“Os líderes querem contratar por habilidades, mas muitos não sabem por onde começar”, comenta Villarroel. Segundo ele, não há necessidade de uma reformulação completa dos processos de seleção, mas é essencial que as lideranças identifiquem as competências mais críticas para os resultados de seus negócios.
3. Aprendizado contínuo como estratégia de retenção
A pesquisa também aponta que as tradicionais práticas de treinamento e desenvolvimento (T&D) já não são suficientes para manter talentos. Em 2025, a chave estará na criação de uma cultura organizacional voltada ao aprendizado contínuo.
O levantamento mostra que:
– 32% dos entrevistados pretendem focar no aprimoramento de habilidades existentes para reduzir lacunas de competência;
– 30% das empresas planejam investir na construção de planos de carreira de longo prazo.
“Nosso estudo Workforce já havia apontado que 67% dos colaboradores permaneceriam em uma empresa que oferecesse oportunidades de crescimento, mesmo que não gostassem do trabalho”, reforça Villarroel.
4. Proposta de valor ao empregado (EVP) como fator de atração e retenção
Com profissionais cada vez mais exigentes, a proposta de valor ao empregado (EVP) se torna um diferencial competitivo. O estudo revela que 45% dos especialistas em RH consideram o alinhamento entre os valores da empresa e a experiência do candidato como um fator crucial para atrair talentos.
“Empresas que não praticam o que pregam sofrem com alta rotatividade”, alerta Villarroel. Segundo ele, para se destacar em um mercado competitivo, as organizações devem personalizar suas propostas de valor e garantir experiências autêuticas desde o processo de seleção.
5. Trabalho híbrido e flexibilidade como novo padrão
O sistema híbrido de trabalho segue como tendência dominante. Conforme o estudo, 76% dos entrevistados afirmam que suas empresas adotaram modelos de trabalho remoto ou parcialmente remoto. No entanto, a discussão vai além do local de trabalho, abrangendo também novos formatos de gestão, recompensa e estruturação de cargos.
A pesquisa aponta que empresas mais flexíveis tendem a reter talentos, enquanto organizações com políticas rígidas correm o risco de perder profissionais para concorrentes mais abertos às novas dinâmicas de trabalho. “O trabalho híbrido não é uma moda passageira, mas sim o novo padrão para uma contratação inclusiva e eficaz”, finaliza Villarroel.