Banco registra maior injeção de crédito da história, superando R$ 276 bilhões, e crédito para indústria ultrapassa o agro pela primeira vez desde 2018
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou um lucro de R$ 26,4 bilhões em 2024, um crescimento de 20,5% em relação ao ano anterior. O desempenho positivo foi impulsionado pelo aumento das aprovações de crédito e garantias, que somaram R$ 276,5 bilhões, configurando a maior injeção de crédito da história do banco.
Os dados foram apresentados nesta terça-feira (25), na sede da instituição, no Rio de Janeiro, durante evento que contou com a presença do presidente Aloizio Mercadante e de diretores do banco. Os resultados indicam uma demanda crescente por crédito em 2024, tanto por meio de operações diretas quanto indiretas, via agentes financeiros parceiros.
Crescimento expressivo nas aprovações de crédito
As aprovações de crédito totalizaram R$ 212,6 bilhões, um aumento de 22% em relação a 2023 e de 61% em comparação a 2022. O destaque foi a indústria, que teve um crescimento de 132% (R$ 52,4 bilhões) frente a 2022. O setor agropecuário também apresentou alta expressiva de 92%, atingindo R$ 52,3 bilhões. Já o segmento de Comércio e Serviços cresceu 83% no mesmo período, totalizando R$ 33,4 bilhões.
Pela primeira vez desde 2018, os financiamentos para a indústria superaram os destinados ao agronegócio, refletindo o impacto das políticas voltadas para o fortalecimento do setor industrial, como a Nova Indústria Brasil (NIB). “Pela primeira vez desde 2017 o crédito para indústria supera o crédito para o agronegócio, o que mostra o sucesso das políticas voltadas para o fortalecimento da indústria, principalmente da NIB (Nova Indústria Brasil), nesses últimos dois anos”, afirmou Alexandre Abreu, diretor financeiro do BNDES.Apoio a micro, pequenas e médias empresas
No segmento de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), as aprovações de crédito alcançaram R$ 92,4 bilhões. Somando as garantias concedidas pelo BNDES por meio de programas como o Fundo Garantidor de Investimentos Tradicional (BNDES FGI) e o Programa Emergencial de Acesso a Crédito (FGI PEAC), a oferta de crédito para esse segmento chegou a R$ 156,3 bilhões, um aumento de 44,7% em relação a 2023 e de 119,8% em comparação a 2022.
Os desembolsos do banco também seguiram em alta, atingindo R$ 133,7 bilhões, um aumento de 17% em relação ao ano anterior e de 37% na comparação com 2022. As consultas para novos financiamentos somaram R$ 327,7 bilhões, crescendo 21% frente a 2023 e 127% em relação a 2022.
Meta de 2% do PIB em aprovações até 2026
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou que muitas das operações aprovadas nos últimos anos foram direcionadas a projetos de infraestrutura de médio e longo prazo, o que contribui para a meta de alcançar 2% do PIB em aprovações até 2026.
“Você não desembolsa na hora que aprova. Vai liberando parte disso ao longo do projeto. Por exemplo, em uma estrada. Se você passar na Dutra, vai ver a obra da Serra. Essa tranche está liberada, depois vem o outro pedaço. A gente vai acompanhando a obra e fazendo as liberações de forma faseada. Com isso, esperamos atingir 2% do PIB de aprovações até 2026 e 1,5% do PIB de desembolsos. Hoje, estamos com 1,8% em aprovações e 1,1% em desembolsos”, explicou Mercadante.
Inadimplência em patamar histórico
A carteira de crédito do BNDES atingiu R$ 584,8 bilhões em 2024, a maior desde 2017, com crescimento de 13,6% no ano. O índice de inadimplência permaneceu em um patamar extremamente baixo, de 0,001%, o menor do Sistema Financeiro Nacional. Para comparação, a inadimplência geral do SFN foi de 2,95% e, para grandes empresas, de 0,28% em dezembro de 2024.
Impacto financeiro e ganhos extraordinários
O lucro líquido recorrente do BNDES alcançou R$ 13,2 bilhões, um crescimento de 11,1% em relação a 2023. Eventos não recorrentes, como recuperações de crédito, também impactaram positivamente o resultado total. Em 2024, a receita com reversão de provisões de crédito somou R$ 3,4 bilhões, devido a revisões de classificação de risco e recuperação de créditos provisionados anteriormente.
As receitas de dividendos e juros sobre capital próprio também tiveram impacto significativo, somando R$ 10,4 bilhões, principalmente provenientes da Petrobras e da JBS, um aumento de R$ 1,86 bilhão em relação a 2023.
Ativos do BNDES Crescem 14,8% e Ultrapassam R$ 840 Bilhões
Em 31 de dezembro de 2024, o total de ativos do Sistema BNDES atingiu R$ 840,9 bilhões, representando um crescimento de R$ 108,4 bilhões (14,8%) em relação ao final de 2023. Esse aumento foi impulsionado, principalmente, pela expansão de R$ 69,8 bilhões na carteira de crédito expandida, pelo acréscimo de R$ 35,5 bilhões na Tesouraria (com destaque para títulos públicos) e pelo avanço de R$ 2,7 bilhões na carteira de participações societárias.
A carteira de crédito expandida, que engloba financiamentos, debêntures e outros ativos de crédito, alcançou R$ 584,8 bilhões – um crescimento de 13,6% em relação a dezembro de 2023 –, representando 69,6% do total de ativos do banco. Esse avanço foi impulsionado pela integralização de debêntures, pelo aumento nos desembolsos e pela apropriação de juros e atualização monetária. A Carteira de Debêntures registrou o maior valor da série histórica do BNDES, atingindo R$ 35,3 bilhões em 31 de dezembro de 2024, um salto em relação aos R$ 23,8 bilhões de 2023 e R$ 9,1 bilhões de 2022.
No que diz respeito à qualidade da carteira de crédito e repasses, 97,0% das operações estavam classificadas nos níveis de menor risco (AA a C), um percentual superior ao registrado pelo Sistema Financeiro Nacional, que foi de 91,8% em 30 de setembro de 2024, conforme os dados mais recentes disponíveis.
Já a carteira de participações societárias totalizou R$ 82 bilhões ao final de 2024, apresentando crescimento em relação ao ano anterior. As principais empresas investidas continuam sendo Petrobras, JBS, Eletrobras e COPEL.
Captação e Diversificação: BNDES Expande Fontes de Financiamento em 2024
O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) manteve-se como a principal fonte de funding do BNDES, com saldo de R$ 447,9 bilhões em 30 de setembro de 2024, correspondendo a 56,0% dos passivos onerosos da instituição. O crescimento de R$ 45,8 bilhões em relação a dezembro de 2023 resultou, sobretudo, da apropriação de juros e do ingresso de novos recursos.
O montante devido pelo BNDES ao Tesouro Nacional alcançou R$ 60,1 bilhões em 31 de dezembro de 2024, registrando um aumento de 41,1%. Esse acréscimo se deve, em grande parte, à entrada de R$ 20 bilhões destinados ao financiamento de medidas emergenciais para recuperação econômica do Estado do Rio Grande do Sul.
Além disso, o BNDES recebeu R$ 10 bilhões do Fundo Nacional sobre a Mudança do Clima (FNMC), recursos que serão aplicados no Programa Fundo Clima, voltado ao financiamento de projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Em 2024, o banco retomou a captação no mercado doméstico, lançando Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e, pela primeira vez, Letras de Crédito do Desenvolvimento (LCDs), cujos saldos somaram, respectivamente, R$ 2,6 bilhões e R$ 9,8 bilhões até o final do ano.
O diretor de Planejamento e Relações Institucionais do BNDES, Nelson Barbosa, destacou que o banco tem autorização para captar até R$ 10 bilhões via LCD em 2024. Além disso, há possibilidade de novas emissões de LCA, dependendo da demanda do setor agro e da participação do banco no Plano Safra. No mercado internacional, a expectativa é captar cerca de US$ 2 bilhões ao longo do ano, provenientes de diversas fontes. Também estão previstos aportes adicionais de R$ 10 bilhões no Fundo Clima e R$ 10 bilhões no Fundo de Investimento em Infraestrutura Social, criado em 2023.
O passivo com captações externas somou R$ 33,8 bilhões em 31 de dezembro de 2024, refletindo um crescimento de 42,8% no ano. No período, o banco captou R$ 8,6 bilhões junto ao China Development Bank (CDB), ao New Development Bank (NDB) e ao Instituto de Crédito Oficial (ICO), além de registrar impacto da valorização do dólar sobre o saldo devedor dos contratos e a apropriação de juros. A liquidação de R$ 2,6 bilhões com o Bank of New York Mellon, referente ao vencimento de Bonds, contribuiu parcialmente para o equilíbrio do passivo.
Essa ampliação e diversificação das fontes de funding reforçam a estratégia do BNDES de reduzir o custo de captação e fortalecer sua competitividade no mercado.
Patrimônio Líquido do BNDES Atinge R$ 158,4 Bilhões com Lucro e Ajustes de Mercado
O patrimônio líquido do BNDES encerrou 2024 em R$ 158,4 bilhões, registrando um crescimento de 4,7% em relação ao ano anterior. O aumento de R$ 7,1 bilhões foi impulsionado pelo lucro líquido de R$ 26,4 bilhões e pelo efeito positivo da reavaliação de mercado de ativos (ações e títulos públicos), que somou R$ 3,4 bilhões. Esse avanço foi parcialmente compensado pela distribuição de R$ 22,7 bilhões em dividendos, incluindo:
– R$ 9,1 bilhões referentes a dividendos complementares do exercício de 2022;
– R$ 7,3 bilhões relativos ao exercício de 2023;
– R$ 6,3 bilhões em dividendos mínimos obrigatórios de 2024.
O Índice de Basileia do BNDES, que mede a relação entre o capital da instituição e seus ativos ponderados pelo risco, atingiu **28,2% em dezembro de 2024**, mantendo-se confortável em relação ao mínimo regulatório de 10,5% exigido pelo Banco Central. A redução em relação aos 31,5% registrados em 2023 decorreu do pagamento de R$ 13,6 bilhões em dividendos extraordinários à União no final do ano.