Instituições de menor porte desafiam bancos tradicionais com personalização, agilidade e estratégias adaptadas ao fluxo de caixa corporativo
O mercado financeiro brasileiro passa por um movimento de diversificação que vai além dos grandes bancos. Nos últimos anos, as boutiques de crédito se consolidaram como alternativas estratégicas para empresas que enfrentam dificuldades de acesso às linhas tradicionais de financiamento. Com estruturas mais enxutas e foco em personalização, essas instituições vêm conquistando espaço no ecossistema de crédito privado.
As boutiques de crédito são instituições financeiras independentes, geralmente de menor porte, especializadas em estruturar operações sob medida para empresas. Diferenciam-se dos bancos por não trabalharem com produtos padronizados em larga escala, mas sim com soluções adaptadas a variáveis como fluxo de caixa, setor de atuação e estratégia de crescimento de cada cliente.
Nelas, o atendimento vai além da concessão de recursos. O relacionamento é construído de forma próxima, com análises detalhadas que consideram o histórico da empresa, seus desafios e perspectivas de expansão. Essa abordagem consultiva permite que cada operação seja moldada não apenas para suprir uma necessidade imediata de capital, mas também para contribuir com o planejamento financeiro de longo prazo.
Marcos Koenigkan, empresário com forte atuação no setor financeiro e fundador da MEOBank, ilustra como o atendimento personalizado pode fazer diferença. “Uma cliente estava iniciando uma empresa com investimento de R$ 40 milhões. Para preservar o patrimônio já acumulado, orientei que mantivesse o capital aplicado e recorresse a um empréstimo com prazo longo e carência para o início dos pagamentos. Dessa forma, quando o negócio estivesse em operação e gerando receita, ela poderia quitar a dívida sem comprometer o valor investido, que continuaria rendendo. Ela seguiu a recomendação e hoje reconhece a importância de não ter usado os próprios recursos”.
O crescimento das boutiques é respaldado por dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Entre 2019 e 2025, o número de gestoras de fundos especializadas em crédito privado quase triplicou, passando de 60 para 164 casas, um aumento de 173%, refletindo a demanda por alternativas de financiamento mais flexíveis e personalizadas. Além disso, a participação de ativos de crédito privado nas carteiras dos fundos aumentou de 10% em 2020 para 18% em 2025.
Além da flexibilidade, a agilidade é outro ponto de atração. Processos que em grandes bancos podem levar meses, nessas instituições podem ser concluídos em poucas semanas, reduzindo o tempo entre a necessidade de crédito e a liberação efetiva dos recursos.
Para Koenigkan, o diferencial está justamente na customização. “A análise é feita caso a caso, considerando as particularidades de cada negócio. Isso permite criar estruturas mais eficientes, alinhadas ao fluxo de caixa e à realidade de cada cliente”, afirma o empresário.
Com o aumento das demandas corporativas e a consolidação do mercado de capitais, as boutiques de crédito devem ocupar um papel cada vez mais relevante no financiamento empresarial, ampliando o leque de opções disponíveis e fortalecendo a competitividade no setor financeiro brasileiro.