Estudo revela contrastes globais no modelo de trabalho e mostra Brasil entre os países mais preparados para a Inteligência Artificial
As preferências dos trabalhadores em relação ao modelo de trabalho estão se transformando rapidamente e desafiando empresas a equilibrar políticas globais e contextos regionais. É o que mostra o Workforce 2025, estudo anual conduzido pela consultoria global Korn Ferry com mais de 15 mil profissionais em dez grandes mercados.
No Brasil, apenas 12% dos colaboradores se dizem satisfeitos com o trabalho integral no escritório, contra 36% no Japão. A diferença evidencia o dilema das multinacionais: padronizar diretrizes de gestão de talentos em todos os países ou adotar políticas adaptadas às realidades locais.
“É fundamental estabelecer uma estratégia clara e personalizada, alinhada à cultura da empresa. Isso se torna um diferencial competitivo na retenção e satisfação dos talentos. Mesmo sendo uma organização global, é indispensável compreender as particularidades regionais antes de definir qualquer diretriz que se aplique igualmente a todos os países”, afirma Rodrigo Accarini, sócio e líder da área de Soluções Digitais da Korn Ferry no Brasil.
Brasileiros preferem modelo híbrido
A insatisfação com o retorno integral ao escritório é clara. Apenas 19% dos trabalhadores globais que estão em tempo integral no presencial realmente desejam esse formato. Já o modelo híbrido é visto como o ideal por 48%, embora apenas 27% tenham acesso a essa possibilidade. Outros 25% preferem o trabalho 100% remoto.
No Brasil, 56,9% dos profissionais ainda trabalham em tempo integral no escritório, sétima posição no ranking global. O home office integral é realidade para apenas 12,7% dos trabalhadores, mas quase o dobro (27,6%) considera esse regime o mais adequado. O modelo híbrido é o mais desejado: 55,4% dos brasileiros afirmam preferi-lo, embora apenas 28,6% das companhias ofereçam essa modalidade.
Japão lidera o presencial
Entre os países analisados, o Japão apresenta o maior índice de trabalhadores no escritório em tempo integral (69,6%), seguido por Arábia Saudita (65,8%) e Estados Unidos (63,9%). O Brasil aparece em sétimo lugar. Ainda assim, mesmo em nações com maior adesão ao modelo presencial, cresce a preferência por alternativas híbridas ou remotas.
Ranking global de trabalho presencial em tempo integral
Japão – 69,6%
Arábia Saudita – 65,8%
EUA – 63,9%
Índia – 61,2%
França – 60,1%
Austrália – 59,8%
Brasil – 56,9%
Reino Unido – 52%
Alemanha – 47,6%
Inteligência Artificial ganha espaço no Brasil e em emergentes
Além das preferências de trabalho, o estudo revela tendências na adoção de Inteligência Artificial (IA). Enquanto economias desenvolvidas, como EUA, Japão e Europa, mostram maior cautela, países emergentes despontam como líderes de aplicação prática da tecnologia.
A Índia lidera a utilização da IA no ambiente de trabalho (85%), seguida de Arábia Saudita (84%), Emirados Árabes Unidos (82%) e Brasil (80%). Os Estados Unidos aparecem com apenas 61%.
Segundo Accarini, esse movimento reflete um novo eixo de liderança tecnológica: “É curioso como a tecnologia está ganhando espaço e força em economias emergentes. Isso é positivo para o fortalecimento da força de trabalho em muitos países, mas também levanta um questionamento importante: como está o nível de conhecimento sobre o uso da IA na rotina de colaboradores e lideranças? E, claro, até que ponto os trabalhadores estão realmente capacitados para isso?”
Treinamento é fator-chave
O estudo destaca que o entusiasmo com a IA está ligado ao nível de treinamento recebido. No Brasil e na Índia, mais de 75% dos trabalhadores afirmam ter acesso consistente a capacitações em IA. Já em economias desenvolvidas, muitos profissionais relatam falta de treinamento suficiente.
A pesquisa também expõe um desalinhamento entre líderes e equipes: enquanto 78% dos executivos afirmam compreender a IA, apenas 39% dos colaboradores compartilham da mesma percepção.
Accarini reforça o impacto desse descompasso: “A falta de preparo em IA, mesmo diante do uso crescente, faz com que muitos líderes subestimem o potencial da tecnologia, resultando em um desalinhamento entre a estratégia e a execução. Em contrapartida, é importante lembrar: CEOs com alto nível de conhecimento tecnológico tendem a conduzir organizações com maior crescimento anual de receita”, conclui.
Metodologia
O Workforce 2025 entrevistou mais de 15 mil profissionais em 10 países: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Austrália, Japão e Índia. Foram considerados colaboradores de diferentes níveis hierárquicos, de cargos de entrada a CEOs.